sábado, 1 de outubro de 2011

OPERAÇÃO SIMBIOSE - COMO UMA DENÚNCIA LEVOU A DUAS PRISÕES

- Relato de um dono de posto de combustíveis levou promotores a abrir processo em 2010
- MP pediu grampos ao admitir dificuldade em provar vínculo de Marcos Schoene e filho à consultoria

Uma acusação de seis páginas entregue ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) há um ano foi o ponto de partida da investigação que levou o então presidente da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) de Joinville, Marcos Schoene, e o filho dele, o advogado Rodrigo Schoene, para trás das grades no dia 27 de setembro.

A representação foi assinada por um empresário do ramo de postos de combustíveis que diz ter sido vítima do “esquema” organizado por Marcos Schoene à frente da Fundema. No documento, o denunciante afirma existir um conflito de interesses na gestão de Marcos Schoene.

Isto porque, segundo a acusação, o então presidente da Fundema ainda se mantinha na condição de sócio da empresa de consultoria Quasa Ambiental Ltda., registrada nos nomes das filhas de Schoene que presta consultoria para auxiliar empreendedores a conseguir licenças ambientais.

Rodrigo faria a intermediação para que empresários tivessem facilidades se contratassem a Quasa. A acusação ainda menciona casos de postos de combustíveis que teriam sido autuados por irregularidades – somente aqueles que recorreram aos serviços da Quasa teriam resolvido as pendências administrativas, aponta a representação.

Procurado pela reportagem esta semana, o denunciante disse que preferia não se expor por medo de represálias. “Fiz isso porque não suportava aquela situação. Agora confio no trabalho da Justiça, mas quero ficar distante disso”, alegou.

As acusações dele ganharam força com outras denúncias contra a Fundema, feitas por servidores do próprio órgão, levadas ao MP-SC ainda no ano passado. Outra frente investigativa partiu de uma segunda denúncia levada ao Ministério Público Federal (MPF) em abril deste ano.

A Associação Viva o Bairro Santo Antônio contestou a liberação de licença para a construção de um prédio numa área supostamente alagadiça. A queixa foi o fio condutor para que os Ministérios Públicos Estadual e Federal passassem a trocar informações.

O sucesso da investigação depende da comprovação de que havia uma “simbiose” entre a família Schoene e o poder público por meio da Quasa Ambiental Ltda. A busca por evidências da suposta relação privilegiada que os filhos de Schoene teriam com a Fundema, através da Quasa, concentrou a maioria dos trabalhos nos bastidores da Operação Simbiose.

Em depoimento, uma das testemunhas de acusação no processo diz ter recebido pelas mãos de Marcos Schoene um cartão do filho dele, Rodrigo Schoene, orientando a procurá-lo para que resolvesse “rapidamente” entraves na obtenção de uma licença da Fundema.

Para o MP, ações como essa eram recorrentes e garantiam a preferência da empresa Quasa na liberação de licenças. Mas os próprios investigadores reconhecem que a suposta articulação entre membros da família Schoene e a Fundema é difícil de ser exposta de forma concreta.

“Sabe-se que normalmente os delitos citados se consumam através de negociações de bastidores que não deixam vestígios materiais, o que dificulta a produção de prova documental e testemunhal. Com isso, o agente público age no âmbito de sua intimidade para concretizar seus intuitos ardilosos”, argumentou o promotor Assis Marciel Kretzer em ao pedir autorização judicial para fazer as primeiras interceptações telefônicas.

Com o aval da Justiça, a escuta de 11 linhas telefônicas ficou sob responsabilidade da força-tarefa do Ministério Público em parceria com as polícias Civil e Militar. Tudo o que Marcos Schoene e outros suspeitos falavam passou a ser ouvido principalmente pelo major da PM Miraci José Montibeller e pelo delegado Rodrigo Pires Green.

Além das escutas anteriores, a investigação agora se volta também para a análise de todo os documentos e equipamentos de informática apreendidos na operação. Ao Ministério Público, cabe juntar as pontas que provem concretamente a ligação de Marcos Schoene e os filhos no suposto esquema.

roelton.maciel@an.com.br

Fonte: http://www.clicrbs.com.br

Um comentário:

  1. Quando vemos a atuação do Judiciário em casos como esse que envolve pessoas de renomado valor social, nos motivamos pela busca da justiça.
    Quanto às reportagens que fazem questão de mencionar a queda do secretário justamente na atual gestão municipal, são inconcebíveis vez que visam apenas denegrir a imagem do prefeito Carlito que nada tem a ver com o esquema da família Schoene, pois apesar do MP ter oferecido denúncia somente em 2010, as acusações são embasadas em fatos muito anteriores à gestão do atual prefeito.
    Meu comentário não pretende parcialidade, apenas realidade, afinal o jornalismo deve ser comprometido com a verdade.

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