Em São Paulo, uma mulher vive um dilema.O filho dela, de 15 anos, foi atropelado na frente de um shopping e ficou bastante machucado. O atropelador, embora não tenha fugido, não procurou o garoto, não o visitou no hospital, nem sequer deu um telefonema...mas quer o perdão da mãe do rapaz. O que você faria se estivesse no lugar dela? Você perdoaria?
No dia 17 de maio de 2010, os bombeiros receberam um chamado: “Tem um atropelamento aqui na Faria Lima, o rapaz avançou o sinal vermelho e pegou um pedestre aqui”.
A vítima: um menino de 15 anos, que tinha acabado de sair do shopping. Para o jovem Pietro e para a mãe dele, Patricia, começava ali um drama que já dura quase três meses.
“Ele não pode se mexer, ele não pode fazer absolutamente nada”, conta a mãe.
Agora, frente a frente com o atropelador, Patricia vai tomar um decisão crucial. Perdoar ou não o homem que tanto machucou seu filho?
“O que eu fiquei muito chateada foi com a falta de atenção e carinho”, disse Patrícia Donghia.
Foi uma segunda-feira, eu estava no telefone com uma prima minha, e o meu celular tocou: "O seu filho foi atropelado".
Uma testemunha conta que tinha acabado de sair do shopping, onde trabalha como vendedora. Quando atravessava a rua, Eliane diz que ouviu gritos.
“Ele ficou em pé na nossa frente, falando que estava sentindo muita dor. Eu achei que ele ia desmaiar porque ele começou a tremer, querendo deitar no chão”, lembra.
O resgate chegou rapidamente. A vendedora diz que o motorista não fugiu, mas também não ajudou a vítima, o menino Pietro. “O rapaz não fez nada. Em instante algum eu vi ele perguntar: ‘Você está bem? Você está precisando de alguma coisa?’".
Levado a um hospital particular com fratura na clavícula e no braço, o adolescente sofreu uma cirurgia de cinco horas. Pietro passou ainda por um procedimento doloroso para tirar os pedaços de asfalto grudados na pele.
“É horroroso! Eles pegam escova e escovam tudo, pra não ficar um pontinho de asfalto”, lembra a mãe.
De janeiro a maio, foram registrados quase 9 mil atropelamentos no estado de São Paulo, com 150 mortes: uma vítima fatal por dia.
O rapaz, que não quis dar entrevista, ficou quase três meses imobilizado. “Sem poder mexer o lado esquerdo. Ele não conseguia dormir. Eu ficava junto com ele. Que existe um trauma, existe”, destaca Patricia.
Patricia não pretendia processar o atropelador. “Só que um dia, o Pietro disse assim: ‘Mãe, você não vai fazer nada? Você acha justo?’", conta.
Foi quando ela decidiu pedir conciliação. Para a advogada, o que mais pesou foi o suposto descaso do motorista. “Não me procurou, nunca ligou. Alguma coisa a gente vai ter que arcar com os nossos enganos e erros”, disse Patrícia.
E o que diz a outra parte? O pintor Vivaldo, pai de duas filhas adolescentes, nega que tenha se omitido. “Não tive oportunidade de pedir o telefone da família para me comunicar”, disse o pinto Vivaldo Lima, que atropelou Pietro.
Ele apresenta outra versão. “Na minha visão, o farol estava aberto para mim, entendeu? E o rapaz atravessou um pouco correndo. Eu não estava alcoolizado, eu não estava com alta velocidade. Aconteceu”, conta o pintor.
“Conversei com ele, acalmei ele, que também ele estava muito nervoso. Eu só não me aproximei mais dele porque todo mundo viu que eu estava muito chocado. Eu fiquei muito comovido. Durante uns 15 dias eu só pensava naquilo, orei muito por ele, porque no momento que acontece isso, a gente pensa muito na nossa família também. Porque as minhas filhas têm a idade dele”, disse.
Encontrando com Patricia, Vivaldo diz que gostaria de falar: “Se eu fui culpado, que ela me perdoasse. Não sou um malandro, não sou um bandido, eu sou um trabalhador”.
Palácio da Justiça, São Paulo. Nos corredores, antes de audiência, Patricia e Vivaldo se veem pela primeira vez.
Começa a conciliação: Vivaldo tenta se justificar. O pintor diz que o sinal estava aberto para ele. Patricia diz que as pessoas no local do acidente disseram que o sinal estava vermelho.
“O fato de não ter entrado em contato, foi porque eu não tinha o telefone”, alega Vivaldo.
“Se voltasse à delegacia, você ia encontrar o telefone dele. O que me incomodou foi a falta de atenção e carinho, de saber como estava o menino”, desabafa Patrícia.
A mãe diz que o menino ainda não pode se movimentar. Vivaldo não sabia e se emociona. A mãe ainda diz que a pele do menino precisou ser escovada para retirar os resíduos de asfalto na pele.
“Eu tenho certeza absoluta que você não queria atropelar o meu filho. Isso eu tenho certeza. Não precisa chorar, Vivaldo. Assim, na vida, a gente tem que encarar as coisas”, disse Patricia.
“Eu me sinto culpado. Não foi por querer, não. Me desculpe”, pede Vivaldo.
“Por mim você está desculpado. Eu só queria ouvir a sua versão. Eu só queria te passar o que o Pietro passou nesse tempo”, disse a mãe.
“Foi muito difícil pra mim também como foi para a senhora e para ele”, diz Vivaldo chorando muito emocionado.
Durante seis meses, Vivaldo faria algum tipo de trabalho social. Foi uma saída pacífica para um caso que poderia virar processo.
Na sexta-feira (06), Pietro foi operado pela segunda vez, para tirar os pinos do ombro esquerdo. O jovem vai fazer sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos.
Fonte: fantastico.globo.com
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